vendredi 26 septembre 2008

paródia

É impossível delimitar o que é ser humano na sociedade pós-moderna. Diversas concepções ontológicas já surgiram com o passar dos séculos, mas nenhuma captou a verdadeira essência do humano, se é que o humano possui uma. Ou a essência do humano é demasiadamente mutável, ou ele carece de uma.
O homem da antiguidade, o homem do ilimitado (ápeiron), o homem do mesmo princípio de todas as coisas, o homem em conjugação com o mundo, com a physis, morreu. A concepção naturalista na qual se viam imersos os homens da Grécia Antiga não mais identifica o homem atual. O uno, o fluxo, e a unidade do movimento nada mais explicam.
A cidade também não mais confere identidade ao homem A pólis, agora metrópoles, não fagocita (no bom sentido) o homem, a cidade não possui mais tanto poder de transformação sobre o homem, ele não é nem se sente na cidade. O trabalho, que já foi razão e sentido da vida, fator determinante desde o nascimento, agora não passa de meio de sobrevivência.
Com toda a revolução biotecnológica, o homem não sabe ser por si mesmo. O homem depende totalmente dos aparatos técnicos para afirmar-se como homem, nada sabe fazer sem o auxílio da tecnologia. O homem, de certa forma, troca seus instintos por inteligências artificiais. As telecomunicações substituíram estradas de terra, as videoconferências poupam horas de viagens, a energia elétrica substituiu a fogueira e deu a luz a milhões de aparelhos, os quais os homens atuais não conseguem desvencilhar-se, imaginando a vida impossível sem eles.
Espera-se até superar o cárcere físico, o limite corporal determinado por sangue, ossos e gorduras. Pretende-se transmitir nossos impulsos cerebrais à hardwares, atingir a máquina humana, computadorizar o pensamento. Ultrapassar a imortalidade.
Porém, ultrapassando a imortalidade, ainda seríamos humanos? Não seria a finitude intrínseca à concepção humana? E, ao transcendermos o corporal, a ligação eterna às máquinas seria humana? A meta, a perfeição, seria a inteligência artificial? O homem se vê no não-humano, lá procura completar-se. A nossa condição humana caminha cada vez mais ao não-humano.