lundi 11 juin 2012

melancolia

entre o campão e o céu é tudo nosso. nossa grama pinicante, nosso madraçal de lama, nosso brilho no escuro, nosso vazio e nossa água sublimada. as facetas de tormenta e gozo que se escondem entre as traves, o branco lascado que circunda o enferrujado, seu meu zíper aberto e a vontade lancinante de transgressão. o sangue que pulsa retumba mas não pode transbordar, porque nossa miami é encarcerada na insatisfação do gozo contido que se satisfaz. pertencemos um ao outro sem nunca nos tocar.
e não me cansei nunca de cultivar esse jardim de hematomas regado com águas salinas, que se marcam indeléveis em todos os níveis da pele pra baixo. me estremecem todos os sentidos mesmo no meio mudo de todos, luzes cirúrgicas e os olhos embaçam com o tremor da pele de ouvir os 9min da trilha da sua vida.

lundi 9 janvier 2012

parturiente
de sangue
e ideias mortas

samedi 31 décembre 2011

estrada
hiato eterno
que leva o nada
a lugar nenhum

ponteiros não passam
vento não sopra
as folhas permanecem no mesmo lugar

vácuo.
tempo suprimido
no vazio da locomoção
e eu li e vi você sangrando no papel em todas as páginas onde as gotas de sangue não cessam de proliferar. meus olhos vagaram a fio procurando por mim no seu sangue pisado estancado em papel, mas nem em sua memória sobrevivi.

jeudi 8 décembre 2011

escorre, corre

o corpo que petrifica diante do mundo que não cessa um segundo, se torna imóvel pela hipertrofia de movimento. o choro jorra natimorto, seco desde a geração; o pensamento autofágico, de turbilhão canibal; o abscesso que apodrece por dentro, putrificando pele sã; os rasgos, messiânicos, permitindo o êxodo das vísceras. os dentes deram lugar às gengivas sangrentas, sou apenas filetes tentando escapar.

pra dedos que desaprenderam a escrever

eu me sequei e fiquei tanto tempo assim, aberta, que de tanto evaporar tudo puiu. e as longas sinfonias mudas, os quadros púrpuras de hematomas, o etanol intravenoso hidratando a amnésia... descascaram minha face. sem rosto nem traços, vulto no papel em branco, na noite fosca. esqueci como era enxergar a pele homogênea, o corpo unitário, a cidade fora das chamas. meus olhos se tornaram cinza-escuro, meus cabelos nublados, e a pele, granizo espatifado. meus gritos, trovões engolidos. e a tempestade não cessa de desabar. cicatrizes são sequelas de quem realmente morreu.

vendredi 14 octobre 2011

riscos vermelhos ornam a pele cansada, que não mais sente a chuva que lava a podridão. bancarrota putrefata exala morte a cada esquina inexistente e deixa o céu de baunilha liquefazer bueiro abaixo.

lundi 25 juillet 2011

mioma

tomo uma brisa nesse frio sem meias, quero ver se espaireço. brisa amarelada, repleta de bolinhas sedentas pela superfície. assim como você ontem e sempre, buscando a superfície da alta embriaguez. trôpego e titubeante, seus olhos tem menos brilho que a brisa. não tem foco, não tem destino... perdidos na imensidão do ar. juras amores promessas se liquefazem num álcool amargo intragável. bafo de morte, gosto sepulcral. e a dor do câncer, perene... ubíquo... não deixa o amor liquefazer também.

lundi 11 juillet 2011

memórias subterrâneas

eu não aguentava mais trabalhar naquela catacumba. tijolos cor de barro dispostos por toda aquela imensidão vazia, os espaços sempre enevoados como se tocasse o réquiem de um apocalipse zumbi. trabalhava ali em meio à poeira e ao nada, retirando cultura debaixo dos tacos. milhares de livros, cds, documentos. todos subterrâneos, proibidos. já não me lembrava há quanto tempo não sentia o cheiro do sol.
também não me lembro como aconteceu. refugiada ali naquele submundo, não me recordava como era uma feição humana, uma face.o estranhamento foi enorme ao ver adentrar no meu sepulcro uma coisa além de névoa. era um amontoado de carne, ossos e pelos. um rosto bronco, repleto de barba. não sei se era ele alto demais ou eu alta de menos. nós não nos falamos. nem um balbucio. gaguejo. nada. ele me olhou com seu olhar pleno de ébano. era como se fosse um autômato, ou então com tanta vida que eu não conseguia identificar. era como se me lesse inteira por dentro, e soubesse melhor que eu o que eu queria e deveria fazer. foi quando eu resolvi me entregar.
nos encaramos por mais alguns diversos instantes, um fotograma que se repete por toda eternidade. ele agarrou meu braço e me puxou para fora da imensidão da minha sala retangular. redescobri a escuridão do corredor que leva o mundo exterior a minha catacumba. tanta poeira que gravava as marcas de nossos pés. a marca dele era grande, pesada. me dava tanto medo quanto segurança. continuamos penetrando a escuridão e chegamos num hall. uma cadeira antiga, duas paisagens pregadas na parede. o vidro estava estilhaçado pelo chão e a clarabóia apoiava uma escada. subimos. rememorei o cheiro de sol e quase me ceguei com os reflexos dourados na névoa. tudo ao mesmo tempo. ele sibilou sua primeira palavra - toma. sua voz era determinada, linear, ela já tinha atingido o que ele planejava. ele entregou em minha mão dois brinquedos estranhos. um, tinha formato de controle remoto, um botão parecido gatilho atrás e na ponta ia se tornando mais grosso. outro, parecia pingente com uma luz vermelha passeando nervosa dentro de uma cápsula transparente.
a curiosidade pelos brinquedos passou e deu lugar a curiosidade pelo mundo. estávamos num prédio com poucos andares, estranho, com várias aberturas para o céu e jardins extremamente vívidos. transeuntes passeavam no piso que era o teto da minha catacumba. me senti como a toupeira que vê o sol e queda cega. essas pessoas também pareciam autômatas, mas sem o magnetismo daquele que me buscou. era como se nem notassem minha palidez de quem há anos não vê o sol.
ele encostou na minha mão. firmávamos um pacto. corporal, de morte e vida. ele colocou sua mão em volta da minha, com o controle remoto no núcleo, e apontou meu braço na direção de um casal que passava conversando ao lado. apertou meu dedão no gatilho. os quatro pés ao nosso lado distanciaram-se do chão, os milhões de fios de cabelo desobedeceram a gravidade e os dois corpos contorceram-se no ar por volta de três minutos. caíram como fruta madura.
fui embalada por uma deliciosa gargalhada, quando percebi que além de tanta vida transbordava morte naquele homem barbudo. me senti seduzida de corpo e alma por aquele tânatos-eros ambulante, e não consegui evitar uma deliciosa gargalhada que pareceu permanecer por toda eternidade.
tudo me pareceu claro nesse instante. usaríamos os dois brinquedos que havia me dado em quantas pessoas nos apetecessem e depois sumiríamos. viraríamos pó. e eu aceitei.
antes de me ensinar a manusear o que parecia um pingente, ele novamente me paralisou no olhar e disse - morreremos juntos. concordei tacitamente apenas com o brilho louco de explosão no meu olhar, era tudo o que eu sempre quis e somente o que eu faria.
o outro brinquedo era como laser de criança, o qual me lembro remotamente como adorno de crianças endiabradas. já o laser que do meu pingente transparente saía não era como o das crianças insuportáveis, para mirar nos olhos alheios apenas para perturbar. o meu fatiava em desenhos inimagináveis feitos apenas pelo meu balançar de mãos qualquer corpo que eu apontar.
fatiamos mais algumas pessoas que por nós passavam e saímos correndo pela grama, rumo a uma subida. toda a determinação e certeza que me apossavam começaram a desaparecer a cada passo. o que eu estava fazendo não tinha volta. era pacto com a morte.
fui tomada de súbito pela desorientação. não quero mais. na verdade, nunca quis. fatiar corpos, torturar pessoas. que inferno eu fiz?
começamos a ser perseguidos por duas mulheres. até agora não entendo porque não abusei da fatalidade dos meus brinquedos para acabar com elas. talvez fugir, não sei.
ele novamente apertou minhas mãos. dessa vez, a aflição dominava sua voz, o tom era alto, mas quase uma súplica - MORREREMOS JUNTOS, MORREREMOS JUNTOS. as mulheres se aproximavam mais e mais e mais. ele suava frio e seus olhos vidrados me refletiam como se eu fosse o nada. colocou o controle remoto na minha mão, o pingente na dele. eu não queria mais morrer, tinha tanta coisa pra viver no mundo, tanta coisa pra fazer das quais havia esquecido enquanto encarcerada naquela biblioteca subterrânea. muito menos queria ter matado, não sei de onde brotaram as gargalhadas que acompanhavam o esfacelamento dos corpos. só ecoava pelo meu crânio o arrependimento.
ele apontou o pingente para minha cabeça, e com os olhos marejados, balbuciou - morreremos juntos.
acordei.

lundi 20 juin 2011

quisera eu te fagocitar
pra poder te ver toda vez dentro do espelho e te quebrar em mil pedacinhos
nos meus 42 anos de azar.

mercredi 15 juin 2011

será que perecerei nesse eterno atraso da anterioridade de 20 pedras?

reflexos vazios

e aqui me sento, em meio a essa areia microgranulada que tende em pequenez ao infinito, fecundada pelo seco (curiosa essa proximidade do teclado entre o c e o x) horizonte prenhe de azul que já foi virginal, mas que hoje é melangé com o calor que insurge do fulgoroso liminar das alucinações terrenas.
minha epiderme granulada se afunda ao contato com os ardentes microgrãos do deserto, minha pele se torna tela do baixorelevo da dor. não há nada além de mim e do tudo. minha solidão é coroada com espelhos que só refletem

o nada,

samedi 11 juin 2011

estátua

debaixo do céu de baunilha, deixo os poros abertos para ver se ainda sou capaz de sentir algo. largo meu corpo ao relento, ao ar gélido que me lembrará se fui capaz de me anular.
sinto o frio, mas gosto. congelaria ali deitada no banco espesso, sem cor nem vida como eu. contemplo a efemeridade do róseo no céu, mas tudo sempre se torna cinza. a eternidade é cinza.

vendredi 10 juin 2011

ferrões

e a gente é tanta água que se afoga um no outro, engasga de ânsias e saudades e vermelho. tanto vermelho vida morte que cega por exuberância de visão. e eu choro choro engasgo. o meu conforto é saber que o sal do meu pesar é prévia do teu degustar.

maio viscoso

aos poucos o corpo perde a voz, esquece o que sente, pulsa e vive. a morta se aprochega lentamente, não se faz ver nem ouvir. é o esquecimento que esgarça as juntas, afrouxa o colágeno e o que um dia foi a unidade.
o corpo, que mantinha dicotomia completa, que era veículo no mundo e ponte do sentido, entrou em coma. não sente mais.
perdeu sua viscosidade, seu sabor de lenta decomposição, seu sangue salgado se transmutou em ralo líquido avermelhado.
só se dorme. não se sonha.

samedi 14 mai 2011

prelúdio à morte de deus II

alzira
no corpo
explode

de tanta
languidez

alzira
na alma
remonta

a um canto
de altivez

a decomposição - suave - de alzira
é canto celestial da laconicidade
e desinteresse
de deus.

prelúdio à morte de deus I

alzira acordou. abriu os olhos penosos e pensou: - merda. pôs um pé no chão, depois o outro. sentiu alguns farelos desconhecidos esparsos no piso.
levantou e foi escovar os dentes. malograda, se desmanchou durante o caminho e se decompôs com os dentes ainda sujos.
no seu funeral, não houve caixão branco.

mercredi 6 avril 2011

cachée

convulsões da inquietude ou letargia do tédio? a arte se espreita por essas fendas, e, de tanto esgueirar-se por tais metafísicas frestas, a preguiça quebrou o pescoço.

samedi 2 avril 2011

a um falecido desconhecido canino

olhos marejados de incerteza que titubeiam pela casa escura e vazia, se cegam com a profusão de vida e morte mesclados em cores ofuscantes. a vida deveria ser tanta morte, mas morte boa. morte própria, visceral, validada por algo que nunca saberei o que. essa vida de metadiálogo polvilhada com o impessoal da pior espécie é pior que empalhamento, onde perdura pela eternidade o que não aguenta mais ser visto.

mercredi 16 mars 2011

sanglots

não caibo mais dentro de mim. transbordo e me desmancho geograficamente pelo globo inteiro, me fragmento e não me encontro em lugar algum. sou estrangeira em toda e qualquer cidade e nativa de todas as terras. sou estrangeira no meu próprio corpo e sou criadora do mundo. a correria me entedia mas o acaso me fascina. sinto preguiça de respirar mas tenho ânsia de engasgar. quero comer soluços e beber lágrimas. o desprezo enlaça tudo e me esquece num bunker sarcofágico antinuclear.

mardi 15 février 2011

pont-neuf

é bom saber que você sente falta do meu cheiro de mim mesma do mesmo modo que sinto falta da sua pele áspera e do seu cheiro de você mesmo. mas eu lembro do seu corpo, e da sua saliva de você mesmo que vira eu mesma num certo ponto e começo a desesperar. que nem quando escuto nina simone e só me vem seu corpo me enlaçando dentro de minha cabeça. passei meses sentindo seu cheiro em todo lugar e usando suas roupas pra voltar a ser você mesmo sendo nós dois ao mesmo tempo, e em todas as palavras só conseguia enxergar tua poesia. o você eu mesma foi se dissolvendo mais a cada dia, você esvaia de mim e se infiltrava nos bueiros nessa vida de rato sujo e mutilado. a gente sabe que nos mataríamos eventualmente. eu a você e você a mim, como se fossemos um só cadáver ao mesmo tempo. eu queria ser suficientemente você pra poder tirar a sua vida, e com ela pra mim você tirar a minha, e a gente ficaria nesse ciclo suicida eternamente, cada um com sua alma que é do outro mas minha sua do mesmo tempo. moraríamos na pont-neuf, bebendo vinho barato e nos mutilando juntos, brincando de atirar pelos ares e brincar de bola de gude com globos oculares.
você vive com tanta urgência que acaba por nos matar.

lundi 14 février 2011

glub

faz bolinha, deixa afundar.
mas as costas grudam antes do ralo se aproximar.

mercredi 2 février 2011

fui soterrada por um deslizamento de vivências provocado por percussões nostálgicas distantes.

dimanche 30 janvier 2011

há um ano, embriaguez e amor

bárbara b
to -----

show details 1/30/10

sabe, o que a ebriedade me lembra a todo momento epifânico é que o que dói é a virtualidade extrema, é o não saber se o que existe é ou apenas se refugia no deleite da imaginação. nunca sei se o você-celui-là é de verdade ou se é devaneio meu. nunca sei dizer se o que te digo ou supostamente ouço é verdadeiro ou se foi apenas cria dos narcóticos. eu queria que você existisse de verdade, mas até agora, ante a vigília ou o onírfico, e a embriaguez e a sobriedade, eu não sei se existe ou não. e isso dilacera sabe, isso degola toda a volição, e se alimenta da indecisão, e do estado estático e lacônico do não-ser. e explodde sinmplesmente na euforia raivosa, plena de ira, da condição de não ter noção do que se é e que se espera; não se sabe se se pode esperar ou almejar qualquer coisa, e mesmo com a tentavia de escurraçar toda esperança maldita, sobra aquele resquicio de que uma miragem desértica pode aparecer a qualquer momento e te enlaçar como se não oucvesse amanhã. é isso que dói, entende. é isso que gera toda ira irascível e toda a insuportabilidade etílica que eu despejo sem ou com querer. chega no apice de reflexão do queria ou não que existisse. porque dilacera sabe. a carência que se acostuma com um ser (que eu queria exemplixar com um adjetico mas só lembrarei na sobridade), um ser que teoricamene me faz bem e me acalenta no mau (mal?). mas aí vc some quase definitavamente e aparece, e isso me dói.. não consigo lidar com a alteridade inconstante, o meu próprio me dói constantemente e me lança, jeter literalmente na merda, na vontade contida e no desejo contido. e vc aparece ai, resplandecente no vazio, como se estivesse sempre ai.
então, ou seja ou não seja. ou apareça ou não. me martiriza essa impossibilidade, esse lugar da ausência que resta no limbo dae xistencia. ou se é ou nao se é. não que eu queria cair num parmenidizianismo. mas mesmo num heraclitsmo, que seja um devir que não alimente minha destruição, pq to exausta de nao conseguir lidar com a solidao e cair na multidao dentro da embriaguez e da cocaina, e acordar no dia seguinte com hematomas passeando pelo meu corpo e uma dor "moral" que nunca sei ex´plicar.

vc pode (ou deve) ignorar tudo isso que digo, mas nao sei, exista mesmo, por favor.
se vc nao quiser nao precisa existir, mas poderia ao menos se misturar à nevoa.
foi mal por sei la
je danse, donc je suis, c'est vrai
excusez-moi
desculpe por tentar poetizar e dramtizar tudo
msa vc ha de concordar que a poesia fala alem do que a vida eh, do que a vid almeja
c'est ça.

lundi 24 janvier 2011

redondidade alva e polida

seu cheiro ecoa, ressoa em meus ouvidos e a cada palavra tua sibilada fico envolta por tua alvura de pureza. cada letra que leio encarna tua face, e cada tropeço teu encadeia meus pontos finais. essa essência se apodera de tudo, e toda percepção é reflexo teu. me acalenta teu canto de pureza seminal.

dimanche 23 janvier 2011

bêbada de água suja

tenho medo de encostar nas coisas e sentir de novo a tatilidade do real. tenho medo de tomar banho e descorar como guache sobre tela. tenho medo de abrir minha bolsa e ler recibos que me registraram lá. tenho medo de olhar pela janela e não ver o mar. tenho medo da brahma voltar a ser ruim. tenho medo de enfrentar a arquitetura fascistóide do olhar incisivo. tenho medo da ducha quente e da noite fria.

arpoaDOR

desfazer as malas, abrir zíperes, não quero tirar a areia do corpo.
quero viver entre os montes me dissolvendo na água e sal. quero me embriagar do suor pelando quarenta graus. prefiro afundar no empuxo do mar do que me asfixiar nessa geométrica secura.
não quero abrir as malas, quero continuar surda com grãos de areia no ouvido, quero continuar com cheiro de filtro solar e com seu gosto dentro de mim.
quero sentir pedra calor enjoo. quero passar mal fumando cigarro, quero acordar no seu cubículo de um ventilador roto. quero me sentir derreter contigo no suicídio caloroso de um abraço.
só continuo aqui escrevendo porque não vale a pena pular da ponte jk tanto quanto da barca rio-niterói, onde nem os peixes te deixam sem ar.
o céu, o sol e o mar ao som de o céu, o sol e o mar. quero respirar aquela marola de amor e calor por todas as estações.
ainda caem grãos salinos de meus olhos.

samedi 8 janvier 2011

não existe laço social que ate a natureza, gabriela

mercredi 5 janvier 2011

silente

a fala súbita é tanto tal, mesmo, e aí, tudo bom? ontem, como foi? todo mundo bem? hahaha! tchau. que só sobram soçobradas letras vazias, carentes e famintas; e as eternas lápides da pontuação.
cada vírgula, reticência, é facada no fluxo esperançoso por qualquer porvindouro desconhecido que incognoscivelmente se almeja. cada ponto só deixa carcaças para trás, deixa o que efemeramente viveu apenas enquanto inflado de sentido mas longe de agulhas.
os discursos são bolhas-de-sabão que não refletem arco-íris.

dimanche 2 janvier 2011

criança morre afogada por hipertrofia dos sentidos

é tanta beleza no mundo que dá vontade de morrer.

vendredi 31 décembre 2010

full moon

todos são criminosos à luz do luar.

mercredi 22 décembre 2010

a luz ilumina ou só esconde verdade?

lundi 20 décembre 2010

lamentos do poeta pequeno-burguês

enclausurada nesse quarto sem muros esqueci que o mundo não para de girar.

enquanto desnorteada, quedei-me cega e mediante tantas escolhas caminhos amores me deixei olvidar no álcool e seus desdobramentos e deslumbramentos.
esse ébrio ralo magnético no quadrilátero da decadência só instaura dor disfarçada de euforia e histeria forjada paixão.
mas quando desce a consciência, de que adianta? fazer qualquer coisa além é como aderir à teleologia teológica que molda o absurdo com forma metafísica e esperar transformar argila dura em valor.
qual a porra da diferença ontológica entre definhar no álcool e viver pelo que já nasceu morto?

lundi 6 décembre 2010

quase um gibraltar

margarida me fez acordar. estava no cartório, sentindo o cheiro do carimbo naquele recinto vazio, plena madrugada cumprindo hora extra. comecei uma livre associação com minhas leituras de faculdade, com paulinho da viola e romances lidos durante toda vida.
vejo agora onde estou. sentado nessa cadeira de couro bege, com o estofado desgastado se entrelaçando ao tecido da minha calça. essas certidões de nascimento, matrimônio, óbito. sou em quem decide a existência das pessoas. eu digo quem está vivo e quem está morto. esse poder do registro acabou por sugar tudo o que eu tinha em mim.
lembro-me da época em que passava as noites em claro lendo romances, tocando o despertar da montanha no meu bandolim. bebia, ria, respirava fumaça que não vinha do trânsito. discutia assuntos espirais com meus amigos, tudo regado à cerveja gelada. ficava à espreita das saias das moças, flutuando com o vento gelado do bar.
gostava de sentir os corpos roçando ao meu no caminho da fila do banheiro. gostava do barulho da tampa sendo violentamente arrancada da garrafa. aquele murmúrio ininterrupto de existências desnorteadas, que conseguiam tirar um prazer monumental daquele estado de transição em que seus corpos etílicos se encontravam.
hoje sou um abscesso. sou um carimbo gigante, que decalca a impropriedade sobre as existências em fluxo. nada no mundo me escapa mais, sou como algoz que serve às letras estáticas e eternas.
margarida fez-me ver a vertigem proveniente dum barco nas ondas. fez-me ver que a vida escapa a essa paralisia do registro, do estado, das leis. ainda há espaço de transição. suspensão espaço-temporal.
ah, o mar... tudo flutua. sem limites nem bordas de folha de papel. lá, as palavras escapam para onde a vida se exalta. de embarcação em embarcação corpos se esbarrando, convivendo e desaparecendo para depois de anos voltarem a se encontrar.
a cada atracação no porto, a terra é diferente. tudo cheira diferente. as cores mudam de espectro. bodies taste different. tudo é vida ao cheiro de maresia.

lundi 22 novembre 2010

o tédio permanece mesmo na expansáo da territorialidade, como ja dizia a dimensáo espacial do dasein.

lundi 15 novembre 2010

perdida no surrealismo onírico, sonhei que meu cachorro de pelúcia pulava e se atracava em meu punho.

samedi 6 novembre 2010

amor d'infância

lembro-me de quando você caiu aos prantos no chão. seu corpo todo tremia, seus músculos todos contraídos, seu rosto de pavor. vertia suor frio, e eu queria carregar-te como a um filho.
foi nesse dia que descobri que você era de verdade.
tudo era escuro, a grama era alta e a rua vazia. conversávamos, e repentinamente você teve um surto de existência. sua paralisia exalava mais vida do que toda a inércia cotidiana dos seus beijos de bom dia.
você permaneceu lá, horas a fio, com choro misto de lágrimas. eu me enfureci de inveja. logo eu, que me achava tão autêntica, tão viva, nunca havia rompido com minha cotidianidade de forjar-se louca mas presa na linguagem.
no seu lugar-comum você conseguiu ser homem do subsolo, você conseguiu ser mais literatura que o papel tipografado. essa tua hora de existência valeu mais que minha vida inteira.

mercredi 3 novembre 2010

do dia dos mortos (prefiro mortos a finados)

corpos e corpos e mais corpos luzes lancinantes alucinantes tinas com gelos e latas mais latas e corpos. álcool. e aquele sentimento do que fez mas não foi desfeito, o que passou mas tá marcado.
sou muito pouco. sinto aquela lacuna de mim onde não tenho o que para preencher. é um vazio grande, que se lota de entes mas não tem fundo. que nem estômago de gordinho.
a gente cansa. e nessas horas, hipostasio a dor e sonho com aquele suicídio coma, onde a gente volta a viver quando quer.
não tô conseguindo mais organizar as coisas direito. o caos vai desde manchas de vinho em meu lençol até as minhas sinapses. sentido já não via, mas nem a inércia do hábito que me fazia levantar todas as manhãs tá funcionando mais.
essa coisa de amor platônico não leva ninguém a lugar algum. acho que tá chegando no cume do masoquismo que nem quando eu pensava que a maior ação de crueldade é o pensar auto-reflexivo.
pensar os outros enquando projeção de você deixa meio louco. pensar na perda de tempo que é esse álcool-unb-festinha que é como um trepar sem gozar deixa meio louco. a falta de vontade de abrir os olhos também. mas talvez isso tudo aqui seja uma grande mentira.

dimanche 24 octobre 2010

missa

o domingo do cabrera. agora rola aquela reflexão do tédio. não consigo entender como essa abertura ao ser possa configurar uma existência autêntica. talvez seja só para os bons, porque minha única volição dominical é o suicídio. a chuva cai menos que uma ducha desregulada e eu mal consigo fumar meio cigarro. pego um baudelaire mas meu francês é muito ruim para me satisfazer. nem dormir pra passar o tempo consigo.
que preguiça de existir.

lundi 18 octobre 2010

o inferno é o eterno retorno de infinitas mãos sedentas por tequila, vodka e whisky indo em sua direção.










e copos de cerveja jogados na sua cabeça.

mercredi 13 octobre 2010

um dia depois, a vida só se tem sentido quando se é criança.

mardi 12 octobre 2010

lucia com som de t

lucia cambaleava. bambeavam as pernas e tremiam as mãos ao ver ou sentir o cheiro, dentro do ônibus lotado, do homem que ela almejava seu.
lucia via a sombra de seus cabelos cacheados na parada de ônibus e sentia seu baixo ventre se umedecer. aproximava-se àquela construção amarela bizonha com medo e preocupação. tinha medo de sentir aquele cheiro que só lembrava uma trepada ao amanhecer.
de tanto tremer, deixou seu cigarro recém aceso perecer no chão pútrido.
pegou o primeiro ônibus interestadual e se foi.

sambaeamor

queria ter samba e amor de madrugada. não esse samba amor pictórico, de bêbado rotativo que causa distúrbio tal como iggy pop desnorteado e sem música. um samba e amor que tem gosto de creme bombardeando as veias. cansei de gozar entre as pernas durante conversas insossas no bar. cansei de vagar sem rumo, embriagar-me em busca do desconhecido que só é a mesma frustração repetitiva de nojo pela humanidade.
o meu samba e amor deveria ter uma cadência gostosa, uma síncope de cheiro de suor humano sem arrependimento. sabe, você não é o iggy pop. meu sincero perdão. você só consegue ser a dor da minha impotência. todos vocês só conseguem ser a dor da minha impotência. eu sou a dor da minha impotência.
(se só o cigarro causasse isso, eu estaria melhor que bem)
é raro as bolhas se entrepassarem. eu nunca vou entender vocês. o abismo do absurdo é por demais sedutor. e não tem fim.

mardi 28 septembre 2010

cent morceaux et nerval

é o limbo. a distinção entre sono e vigília há muito se desfez. odores, sensações... todos são turvos em todo o momento. confusão de imagens, sonhos, memórias. não sei se estou em coma ou é a embriaguez que me possui.
a rua me causa medo, os olhares cortam meu corpo tal suplício chinês. flerto com as luzes do tráfego, não sei se me jogo aos carros ou se durmo num coma pela espera de 2012.
sinto-me penetrada pela confusão esquizofrênica como por um consolo chave féerica, que abre pelo meu útero todas as fechaduras oníricas que aqui residem em seu (meu) colo.
não existe polaridade. nem verdadeiro nem falso.nem sonho e realidade.

tudo são percepções confusas, leibniz

lundi 20 septembre 2010

dói, dói, dói

ele tem mãos dotadas de extrema alvura. unhas transparentes que obedecem o contorno dos dedos, macias e quentes.
ele sempre aquece e ruboriza o (meu) corpo. sua presença consterna e paraliza, e abre o orifício da auto-sabotagem como defesa.
sua fala passível de obstáculos, com uma estranha cadência fora de compasso e uma ânsia inefável que o consome me são reconfortantes.
o cheiro de recém saído do banho, a barba feita que lhe tira vários anos de idade. ah, o cheiro doce de quem não tem malícias, de quem transpira suspiros...


não consigo

dimanche 22 août 2010

19-21

erupção desenfreada do mundo que transborda dentro de si, tanta informação, dor, prazer, vida morte e desejo escorrendo por todos os poros, queimando toda epiderme, despejando o que de fora mora dentro.
vontade de tudo ao mesmo tempo. atordoa e desnorteia, é pura produção. o processo que tem o fim em si e não cessa de gerar.
queima quem está em volta. tanta lava petrifica os outros. não há como acompanhar o fluxo sem se perder. a impossibilidade de codificar visões do mundo que coexistem e se penetram mutuamente.
com viver sem o medo da vida, e venerar o prazer usurpando a dor? evitar uma representação extática de si mesmo, evitar uma representação de qualquer modo.
movimento incessante, redemoinho na tormenta que de todos furta o chão.

mardi 17 août 2010

canetas 4.90

é granulada a cafeína sobre o líquido. mas é amargo, de um gelo sem gosto, um leite sem cor, bebida sem identidade. um murmúrio inigualável de vozes desejantes, insatisfeitas, histéricas (porque esse sim, desejo do capitalismo, é pela falta). o antro das compras desenfreadas, da gana de necessidades inventadas.
uma voracidade pláscida invade o rosto dos transeuntes, que desfilam calmamente pelas vitrines dispostas dentro do branco quadrilátero, de chão e teto reluzentes.
as sacolas são as responsáveis pelo desagradável delito auditivo. crianças esperneantes ferem nossos olhos e nossa potência de procriação. a castração compulsória às vezes me parece tentadora.
às vezes a calmaria resolve trepar com a ansiedade, a homoafetividade. um mero sentar, pensar, ler se transforma em espera irrefreada. qualquer olhar torto se vê desfeita, a modulação vocálica instrumento de análise semiótica. cortam-se os fluxos. a paranóia fascistóide cria uma superpopulação de representações.
não existe tal correspondência fantasmagórica (de fato). melhor sentar no café deserto e esperar a mulher suntuosa, de luto, ter seu negro vestido pelo vento balançado. sentir o odor verde noite nas calçadas, refratado pelo amarelo tímido penetrado por sombras... ver a fumaça escapar da boca na pré-história do cigarro aceso... semear fósforos riscados nos jardins...
o câncer sempre floresce epiderme abaixo.

jeudi 1 juillet 2010

CNV

um coletivo. de dois, cinco, sete milhões e quarenta e nove mil, de um. não importa a aglomeração pois tudo se circunferencia. no absurdo, na estetização política e na politização estética. pixado num banheiro ou reluzindo num outdoor neon, é tudo sujeira do mesmo saco. mas nossa sujeira pode ser bonita. o choque do guache no papel pardo tem o mesmo poder do sangue vertendo do corpo. ou os dois não tem poder algum. é tudo questão de posicionamento imaginário.
dos primórdios estupros do oceano aos mujiques russos transtornados, da confusão caótica cosmogônica a uma ontologia rizomática, jazem e renascem os niilistas vikings.
à espreita da penumbra na madrugada e aos gritos matinais do ru, estamos plantados e voando aos ventos. esperem pela nossa brisa ou tornado sedutor.
eles, rien, nós.

mercredi 23 juin 2010

metalheart

ele sente o peso da morte sobre seus ombros. porém, nunca foi capaz de se desvencilhar de tal prazer. prazer magnânimo, iguala aos deuses e situa no mais alto patamar. brota abscessos no asfalto sujo e verte o sangue na enxurrada.
a chuva enxágua a culpa de todo corpo. os vestígios se extinguem meio ao dilúvio de expiações. escorre da memória toda impotência da culpabilidade.
a cada corpo caído, meu corpo renasce. se nutre de sangue novo pulsante, latente de jovialidade em meio à nevoa e à neblina, reluz em mim o viscoso líquido vermelho, que me distingue ante a multidão.
o poder de tão gigante, quase me sufoca na sua penumbra. me sinto como comandante de máquinas, isentas de vontade própria, que ao primeiro entoar de voz se submete fatalmente a mim.
todo um curvar imaginário desenrola ao mínimo cogitar de minha presença.

jeudi 29 avril 2010

cassis

eu perco a liberdade de sofrer e nela me aprisiono ao calor do primeiro sussurro que ao implorar a permanência eterna me abandona persistentemente.
me derreto em licores ao calor no frio, o arrepio do toque da boca macia na pele, da mão que perpassa o contorno estelar e ao fim se reencontra e encaixa em minhas mãos.
o suor que se confunde ao meu e exala essência da unidade carnal, que salga minhas papilas e salpica meu corpo de outro que sou eu.
o aperto que se iguala, de carne e de vazio, de ausência e de presença, que me sufoca na carne macia e acaricia, chamega, acalanta... amansa. amansa o corpo, os anseios ânsias e exalta acalmando paixão.
continuo com o sussurro aveludado ressoando ao meu ouvido, das frases perdidas retumbando no labirinto. ne me quitte pas... ne me quitte pas.. ne me quitte pas...
desde o primeiro bailar de dedos você já me abandonou.

mardi 30 mars 2010

a comicidade do medo da solidão é aterrorizante. o medo de se achar sozinho e o temor de mesmo em conjunto encarar o vácuo é irrisório.
qual o vírus que infecta o eu a ponto de não suportar a si próprio? que impele tudo, até a aversão, a se misturar no espinhoso tecido supostamente homogêneo da coletividade, sendo que esta mesma gera tanto pavor que força um esforço para adequação?
a solidão que mais dói é a não-espacial. é a que persegue desde os sonhos até a agorafobia. é a incapacidade de comunicação expressão e compreensão, é a afasia completa ante a alteridade.
a respiração que se rarefaz frente à multiplicidade de corpos e suga palavras gestos e vontades.
é o frio repentino que congela simultanemante laringe mãos coração. que hiberna vontades e congela desejos. nos paraliza catatônicos no mesmo lugar. no mesmo estado sólido com vontade de sublimar.
o mesmo medo de todos e de ninguém, sem importar o lugar.
essa indecisão, que se forja fruto da esperança despedaçada, é lugar da ausência onde habita o não-ser. é onde toda falta de vontade floresce e se queda exausta de não-querer.
onde cada gole, cada trago, se torna o último.

samedi 13 mars 2010

uma solidão e vários copos

enquanto os pingos descansam sobre os corrimões, os ladrilhos se tornam cada vez mais marrons, o aglomeramento cada vez mais unitário; a ambivalência das palavras eclode.
a esperança que suga o lado não-negro do maniqueísmo mesclada com a vontade e que no bem esgarça todos os órgãos e ações suscetíveis, e que asfixia pouco a pouco enquanto os órgãos se contraem como massa de modelar, renasce em meio ao manancial luminoso pleno de vida desgastada.
corta com os dois gumes, espelhando no aço inox sua verdadeira face destrutiva. a esperança nunca foi o sentimento bom, o último dos moicanos.
é ela que devora, que engole todas as derradeiras vontades com aquilo que não pode cumprir.
é ela que promete o inalcançável, que faz os olhos brilharem de desejo com o que se encontra atrás das grades com a chave já fundida.
é ela que glorifica as mentiras, as omissões e as falsidades, com o ardil do prazer que descansa na potência mais adormecida.
é ela que não concede a vigília, e nos encarcera no onírico falacioso, onde toda dor e sofrimento se forjam como devir aprazível, o que nunca mas se acredita acontecer.

samedi 27 février 2010

é a vontade que nunca cessa

e quando os tonéis de lixo
se enchem
me sinto tanto quanto
quando
meu(s) coraç(ões) se esvaziam

o mesmo cheiro de podridão
infesta o ar
e o sentimento de alguma
coisa a menos
invade minhas estantes corporais

vendredi 29 janvier 2010

vertente

a tentativa do desvelamento é falha. pra que dissecar palavras e expressões? as letras maiúsculas já gritam demais por elas mesmas. não precisam de recursos de vocalização. se mato teus filhos, farei-lhes outros! posso bem continuar no meu meio-andar, em casa de miniatura. assim, não mais preocupação. só explodir e destruir tudo por dentro. encher as letras, inflá-las antes que elas pereçam no ponto.
me permito a todos o assassínio. duas letras por uma, uma por três. meu homicídio parte e faz nascer.

por um rapaz cheio de ódio e palavras

a miserabilidade da vida é incontável. as luzes, os movimentos e o respirar se tornam insuportáveis.
a sequela que resta do calor dissipado pelo frio. do sangue coagulado sob o suor.
não acredito que a dança seja necessariamente sincera, nem que o toque exprima mais que vontade momentânea.
o desejo sujo, irascível, que não deixa mais que marcas raramente memoradas.
perdem-se dias, semanas, meses estático. catatônico. lacônico. isento de volições. tudo se apaga, o corpo não obedece a instintos.
se ao menos o mar fosse mais próximo.

jeudi 17 décembre 2009

cumus

o barulho do mar, o cheiro de vento salgado. não mais me lembrava de quanta tristeza cabia numa solidão. o amor que se revela repentino, meio a mata mangue mar, sob o escuro pipocado de estrelas e a luz que ilumina o movimento das ondas.
a brisa da maresia fuma o meu cigarro enquanto penso que esqueci como é não estar na multidão. o meu eu pequeno, ínfimo na vastidão baiana de água terra e sol (lua, na ocasião) é temeroso enquanto prazeroso.
meu corpo é granulado de areia e sal.

samedi 5 décembre 2009

coxasobrecoxa

o vazio é lugar de palavras como as pernas abertas, esfaceladas, nervosas, num contato de movimento contínuo e musical com o chão. as pernas sozinhas, maquinadas. sem corpo mas vivas. enfeitiçadas, magia da epiderme, que magnetiza mãos sedentas, insaciadas. como palavras, que farejam paredes guardanapos e extratos bancários, mãos buscam pernas abertas e coxas emberbes.

lundi 23 novembre 2009

relato de morte

música alta, acordes estridentes. risadas e dentes, cabelos esvoaçados, chão grudento de suor cerveja e sangue. corpos escorados na mureta, outros descansados no sofá. corredores tumultuados, tropeço em corpos fundidos num beijo e outros arrendondados entre cinco e seis.
nessa calmaria do caos o som ressoa. as músicas vagueam pelas épocas enquanto os corpos repousam em seu movimento imagetizado espacial.
e é assim que lentamente um corpo cai. na fluidez contínua e social do álcool, um simples desatino toma proporções catastróficas. primeiro, o desastre deixa catatônico. depois, se metamorfoseia em pânico.
o movimento toma proporções maiores e se transforma em correria. uma matilha de corpos corre e escorre escada abaixo. o som continua, talking heads psycho killer. o refrão francês não causa mais o mesmo prazer ébrio em mim. agora ele é revestido pelas figuras pasmas, que paralizam e correm.
o corpo fatídico não pulsa mais. o sangue que vaza é escuro e denso. é o penar que não escorre mais dos olhos. não foi apenas uma, mas todas as vivacidades que sublimaram do chão. o sublime se deformou com a supressão súbita da vida. o grotesco das expressões, os rostos pontiagudos com nojo asco e surpresa foram contagiosos.
todos morreram no mesmo dia.

lundi 2 novembre 2009

quimera 2

não sei por que o céu estava púrpura. as poças no chão, da chuva instantânea que assombra nossas sobrancelhas, refletem cores pausadas e neon das propagandas. lâmpadas esparças afrontam a escuridão dominante do céu e do campo. campo vazio, tomado pelo mato alto que sofre pela ausência de personagens.
o gosto estranho invade novamente minha boca. vontade de cuspir, regugitar. mas tenho medo. arrepia os ossos e contrai os músculos. tento engolir o máximo de ar rarefeito. e seguro seguro seguro...
me conforta o barulho dos pneus no asfalto, e os faróis que vagueiam nas veias asfaltadas. minha cabeça se cobre por teias de aranha, pedestres me estranham.
mas é bom o cheiro do molhado evaporando e do exalar de todas as folhas. minha asfixia anseia por mais vida e mais solidão. me pergunto qual será a hora do próximo cigarro.
.
.
.
as teias de aranha voltam a me atormentar e tento agarrar o cigarro pra ele não fugir. o cenário onírico apossou minha mente. as luzes amarelo rosadas denunciam a irrealidade. minhas mãos tremem ao segurar o papel e esperar o desverdear do semáforo. não foi necessário. pude pisotear o tablado listrado antes da minha permissão semiótica.
pela possessão de nerval, ao errar pelos caminos encontrei um nostálgico refúgio. debaixo das escadas, com bancos vermelhos incrustrados pelos pingos de chuva, perecia no dia dos mortos aquela cafeteria fantasma, que nunca se viu aberta.
não estava alheia à sinfonia transitória, mas imersa no âmago sujo do subterrâneo. não consegui entender como ainda não vivem aqui os também marginalizados territorialmente.
como orbe do feitiço urbano, dependurava-se pelas estruturas um recipiente, que me foge o nome. adornado por flores que esperam o beija-flor, ele irradiava a luz dos postes. os raios refratados começaram a me prender, voltaram as teias de aranha. ouço passos na escada vindo em minha direção. é hora de retomar o labirinto das pedras.
salute café
meus dedos começaram a se embrenhar mas encontrei um parque. as formigas trilham o seu caminho amparadas por meu banco e meu cigarro deixa sua fumaça empestear. brinquedos diversos, pintados nas cores primárias, tomam minha visão.
me lampeja a visão da figura amada. dói essa fusão de sonho memória e realidade. a distinção se torna mais difícil a cada bailar dos ponteiros e as figuras diminuem a cada trago.
a fumaça assume minha face e perco a visão. agora adormeci de sonho, realidade, ilusão.

vendredi 23 octobre 2009

lamparina

queria para todo o sempre. colocaria num potinho de formol para vê-lo flutuar na eternidade. áspero, quente. suas linhas sinuosas, sua delicadeza e inconsequência. e meu estômago insone se revira, expele, me consome vagarosamente pela ausência. ânsia do corpo, vontade do sêmem, germe da dependência.
minha nadja é lugar enfeitiçado, é magia do corpo reificado.

mardi 20 octobre 2009

fs

bosques macabros, perdidos na penumbra da saúde. todo caminho é silêncio e toda solidão essencial. o único som que entorpece é a lisergia das cigarras.
nada descreve porque nada acontece. o mundo é apenas mera paisagem. a idéia o mesmo, conjugando metafísica.



e é tudo alto, sem fim. as folhas negras, que fagocitam claridade, zumbem tal zumbis, e no momento estático, se deliciam de sua perene imortalidade. o topo é tão alto que nem o tempo pode alcançar.

mardi 13 octobre 2009

duas verdades

eu prefiro perder um tempo no lampejo e nas vivências. mas por trás do acrílico e com brilho de perseguição, mas pelo prazer estupefato. pela revelação profética que alaga a íris e contrai a faringe, que bambeia gravetos e disseca corações.
os laços explícitos que parecem cadeias causais da providência são afiar da lâmina nos olhos com óleo vermelho retumbante. cega mas faz cheirar o tatear nas papilas gustativas o gosto da saudade.
a mandíbula não mais se fecha e a boca seca. a sinestesia remete ao instantâneo. o estranhamento que se perde após o ponto ainda deixa reluzir o branco da lacuna sentido. mas você lembra o aperto, o cheiro de testosterona feminina, o sotaque de oposição aoutro amor. e agora segue os nós e sente a palato esfumaçada, a mão pesada em contraste ao corpo leve, as linhas nasais e a frequência da voz.
o aperto penetra do externo pro interno. e as alucinações, a perspectiva grotesca percepção, a cor do movimento contínuo e linear, perene visualmente. ânsia estomacal da sinestesia, paranóia social e ritmos incansáveis do atabaque. querem me matar. quero fumar mas não acho minhas mãos. quero levantar mas o chão repele meus pés. quero mudar de frequência, girar o botão, mas só caibo no mundo dos semi-vivos semi-mortos.
ontologizo a crueldade como existencial, e como mártir esfereográfica, me perco na dor do embaralhar de letras ao esperar que minha redenção me volte ao inferno.

mardi 6 octobre 2009

ha)i(des

descendo pelas escadas do inferno, aquele lugar para onde escoam todos bueiros do niilismo, onde toda procura doentia pela insatisfação se encontra.
o tremor diante do vislumbre do nada, a fadiga da corrida pelo conhecimento e pelo sentido, que encontram a subterrânea linha de chegada, a teleologia da decadência.
é só descer que as forças vitais já fogem, evaporam de ti para a superfície. a ganância do saber leva direto ao cérbero, que ao estraçalhar sua ignorância abençoada, a devolve deglutida e transformada na ignorância consciente e culpada.
a culpa e a angústia são o casal que vão te acompanhar a partir de agora, como ceifadores a espreita da morbidez exalante. o fardo do conhecimento, seguido de ignorância, empurra para o calabouço do tártaro.

lundi 21 septembre 2009

tic feixes fótons

o tintilar dos ponteiros do relógio são nada mais que o moribundo marimbondo, que incansávelmente vislumbra a felicidade da morte encarcerada no globo de luz.

jeudi 17 septembre 2009

venoso

não brilha não toca não vibra. a dispersão não me enlaça com seu prazer. me deixa na ira, no peso das pálpebras que se descolam do tempo e do espaço. condição de presidiário esperando a condicional. ele é tão livre que faz eu me oprimir e me esgarçar eclodindo. a lava inunda por dentro, engole o sangue fogo, hemorragia nas placas tectônicas. minha gangrena paralisa mas não amputa.

mercredi 9 septembre 2009

090909

o banho do frio e do cruel torna-se um
existencial
tenta-se alcançar pela via errada do particular
o universal

nem mais a chama
flamejante e irascível
nossa loucura proclama
o fogo ininteligível
que lava, alveja e almeja
transmutar a ordem vigente
ou apenas enterrar o medo com cinzas, findas com nossa credibilidade.

apenas queima, e desgasta. vai morrendo aos poucos, marcas das brasas que já perderam a vermelhidão. a inconsequência que se veste e se esconde em conceito. ao pular as fagulhas, se esquece e perde o eu.

samedi 5 septembre 2009

mrnt

bolhas de ar que falham, na tentativa protetora de negar a embriaguez. distorção cerebral que pari a não-coerência verbal, e o deleite estético do extrato ao avesso, pleno de discurso sem significação. idiossincrasia afirmadora do eu, vergonhosa que se esconde na descartabilidade do panfleto, tal qual vestuário de valentina.
desnecessário.

colônia de férias

digerir, tragar as palavras, que tanto doem e mutilam. e que são indeléveis, incansáveis. não se cansam de tal assombro, de fantasmagorizar nosso eu etéreo. que tentam manter um elo de compreensão, na impossibilidade de contato com a alteridade. que provêm as mais pervertidas e profanas visões do outro.

o outro é o que mais pesa (e vicia) no eu.




pedacinhos fragmentados que insistem em ser de cargas opostas. quebra irreconciliável que não existe fora da aglomeração.
condição fragmentária do ser. mosaico que denota sua peculiar beleza no rejunte, refúgio da singularidade. excentricidade dissônica e desconexa, mas ideal.




gosto de me sentir cheia que nem sopa de letrinhas, que se esvazia e se torna plena a cada gole, traço de tinta esfereográfica.

samedi 15 août 2009

particular absurdo social

o bar não é nada além do acúmulo de insatisfação. tantos seres desejantes, plenos de incompreensão, se afogam na sedência pela busca. o objeto procurado, talvez nem tenha tanta importância. mas a vontade, e a dor pela falta, essas sim são a razão da vontade. a vontade da insatisfação, e a busca masoquista que, num vício doentio, já vislumbra a opacidade do nada.
a prisão circular que nos reduz a roedores, na abstinência do tato. o tato etéreo, superficial, do social a vontade da multidão, que só intensifica a cor do solitário.
pra que a procura pelo outro, sendo que nem o eu fragmentado conseguimos sentir?

é por isso que de nós transborda o absurdo.

dimanche 9 août 2009

bce

bancos quentes, fumaça no rosto mas o vento é puro. e o primeiro cheiro de vida já me seduz. desde o sobretudo pesado, suado embaixo do sol de meio dia, aos cabelos grandes, loiros esvoaçados.
me dá vontade de levantar, mas logo lembro da repugnância, e do desejo ímpeto de me consumir corroendo meu estômago de fumaça.
tenho vontade do branco e do verde, quero me entorpecer pra ver se vivo e adormeço. cansei do cinza mórbido das olheiras, e da vermelhidão sóbria dos olhos.
mas quero entorpecer enaltecer o particular, alheio. a tudo e a todos. fugir da prisão da linguagem e independer da compreensão.
simples baforadas já me esfumaçaram de vida, mas volta. a brasa do cigarro não é tão quente quanto um corpo. não tem a umidade da experenciação.
o que sempre complica é o depois. e o agora, ao se constituir como depois do antes. e o antes, por não ser nada além do depois da solidão primordial.

lundi 3 août 2009

nasalidade

a obsessão doente da madrugada
que atiça a centelha do vazio
a pele, pelo frio ofuscada
o calor, preso num desvario

mente vazia, oficina do diabo
a vermelhidão mãe dos prazeres
toque no puro e no sujo, do rabo
o utero decompoe-se em simples dizeres

fetos escorrem pelo chão imundo
à sombra do mais fajuto ciume
amor paranoico, de pesar profundo
da decadencia esgarço ate chegar ao cume

dos prazeres, sou toda a morbidez
da genialidade, sou a margem da loucura
na suspensão existencial perco a lucidez
a vontade é encarcerada na censura

samedi 25 juillet 2009

0.2

ah, o prazer da suspensão existencial. o perecer visual, vidrado na tela colorida, mil revoluções por minuto. movimento que prende na estaticidade, dinâmico que dilacera vontades. tudo isso para não ser.
tânatos, minotauro de creta, cada vez mais inspirando nossa sombra. pra que pensar se posso me anular na alteridade visual?

mercredi 22 juillet 2009

molhadinha

morbidez dos prazeres
decrepitude do ódio
insaciabilidade do conflito

jorra o gozo
agridoce
néctar esporrado
gosto sádico
do tato

a busca quente
da alteridade
incompletude.

a experenciação do outro
é molhada.

lundi 22 juin 2009

0.1

afastando, polarizando negativamente, a pura (t?) instância pensamento. que dói, que inibe, que mata lentamente. sodomiza, rasga, e para. petrifica a centelha do viver.

mardi 28 avril 2009

a possibilidade da impossibilidade me estremece. paraliza meus pés. corta o fluxo sanguíneo. essa inércia da supra-consciência angustia. dói. aflora a vontade de morte. potência caótica-destrutiva do esclarecimento.

samedi 18 avril 2009

there's no

esses tijolos cor-de-barro, involtos pelo cimento cinza-concreto, continuam a me rodear. não rodear, pois essas retas do corredor infinito tudo formam menos uma curvatura de 360º.
esses tijolos. capturam a fumaça, no clima da penumbra. e a respiração se torna difícil. concentração então, impossível.
o monóxido de carbono faz o coração bater mais rápido. e, novamente, a angústia se incorpora. o estático só torna o paralítico mais forte.
visão ofuscada. tudo parece tijolo na penumbra em pleno verão. a música vai crescendo, atingindo o ápice da aflição.
para que solos de sete minutos?
o estômago vai se corroendo aos poucos, pura auto-destruição. pedaços de comida voltam, junto às cinzas do cigarro. tal chaminé entupida de fuligem, nada mais passa por aqui.
o lastro de fumaça preso no tubo de ensaio, sufocando tudo que já nasceu morto. tudo se corrompe. continuamente.
cada momento de epifania resgata mais e mais aquele gosto agridoce da morte. da inquietude diante a paz. da calmaria inexistente no pacífico.

dimanche 5 avril 2009

esporos perolados, esqueléticos. sugados pela brisa. não, pelo turbilhão aéreo, caos do impalpável. espiral do vazio ao nada. sai do campo físico para a decomposição. plenitude atingida junto aos vermes do chão.

dimanche 29 mars 2009

inexpressão

é inefável. cai uma unha, depois um dente. lábios podres, fígado em queda livre. uma torrente de partes corporais. a degradação emocional impele ao fracasso físico.
hanseníase espiritual.

dimanche 22 février 2009

solitude

a potência suicida aflora ao soar da primeira simples nota. torna-se desnecessária e dispensável a imponência e magnitude catastrófica do acorde.
na solidão a cinza primavera nasce. regada a cerveja e alcatrão, ela lavra, prepara e semeia o terreno, pequeno jardim individual, da destruição.
com seus míseros três minutos e meio destrói uma vida. que se recompõe novamente ao próximo arfar da bateria.
a inquietude prevê e precede a paralisia da solidão. abundância que escorre de tanto eu. ramificações cada vez mais vazias e cada vez mais complexas na constituição do eu individual.
eu individual que sozinho sou todos.
seis minutos de dor.

samedi 14 février 2009

e se agora, neste pleno nublado maldito instante, se minha cabeça ex ou implodisse, voasse mísera carne moída pelos céus, ao impacto de uma bala de chumbo, eu estaria satisfeita. plenamente satisfeita.

lundi 9 février 2009

overlived

as vozes humanas, distantes 4 andares de mim, soam como zunidos, grunhidos irritantes da insignificância vertebral. todos chafurdados nesse gueto, beco visceral e escatológico que é a noite, exalando a fétida e paradoxal vivacidade.
aquela fumaça quente, emergindo dos bueiros com todos aqueles seres semi-vivos semi-mortos, que mantem sua morbidez decrépita se alimentando dos restos e dejetos, sugando o xorume metropolitano.
humanos subterrâneos. (sub)urbanos?

mercredi 28 janvier 2009

hole

fico aqui, destilando meu veneno na redoma da solidão. olhando, esperançosa e miserável, procurando por um reflexo, miragem ou ilusão.
deleito-me com meus próprios sussurros, sibilando qualquer prosa desconexa. o temor pelo sonho me mantem inerte, nessa vida opaca, já escrita e repetida.
cores e formas são as mesmas, tudo vira escuridão no final. suponho que nem o começo de tal melodia feliz conseguiria novamente me inflar.

lundi 19 janvier 2009

odisséia individual

aquela impotência. aquele círculo sem fim de privação, de cotidiano, monotonia rotineira. a angústia pelo novo aflora cada vez mais e mais e mais e mais. e grita. no extremo agudo, azucrina meus sentidos. e sufoca. e para no fundo do poço, de novo ao cárcere circular.
até as palavras são as mesmas. a paisagem então, o mesmo cheiro. epifania da amnésia.
os mesmos dias, o mesmo tempo. imutável e infindável. continua aquele suplício, o ouvir mínimo da faca ao adentrar. sentir o alargar dos tecidos, células epiteliais. o corte vai profunda, rasga, esgarça e estira tudo. o vermelho-sangue tudo inunda.
a cor viva da morte nos afoga.

mardi 13 janvier 2009

xangô

os anseios, malogrados, espelham o brilhar da lua. a névoa pairava sobre o lago. solidão. essa seria um de meus perpétuos.
do frio do parapeito, exalando aquele cheiro molhado de dias de chuva, posso ver as negras manchas da lua. e ficam a flutuar as memórias.
música alta, cacofonia. o frio da madrugada, assusta na espera aurora. e a solidão, a bagunça da multidão, os desconhecidos a atormentar e confortar.
a única aparência familiar consegue, de tal brilho lunar, ofuscar. cega ao ponto de trazer as lágrimas e o pranto, e suprimir o desejo de ver.
sua resplandecência, contato, a esboçar o mundo a sua volta. e eu sentada, definhando. enquanto eu perco a vida, ele ganha.
nem o álcool acaricia os lábios. nem a fumaça do cigarro propicia meus suspiros.
estou enterrada, morta. morta no meio da festa, tal lua roubou minha esbanjante vida.
e pensar que ele desperdiça tudo assim, jorrando iluminação crepuscular.
que pelo menos em teus desenhos, minha decadência seja um perpétuo também.

mardi 6 janvier 2009

insônia

sumi, tão flamejante
despercebida, fui ao ocaso
a brasa, tão escaldante
migrou ao eterno descaso

paixão, tão derradeira
o toque, foi tão fugaz
o amor, contemplo faceira
por medo, não corro atrás

a efemeridade do fogo
apagado, só frustração
transmutou em geleira, estorvo
as cinzas da decepção.

mercredi 17 décembre 2008

ode a boemia

nada mais vivo
que a asfixia
do alcatrão

nada mais libertinoso
do que o gosto
da sedução

nada mais incendiário
do que a mente
numa prisão

nada mais... morto
que o silêncio
do meu caixão.

dimanche 14 décembre 2008

presunção

O gato preto. Ah, essa vontade artística que me possui. Lá estava ele, contrastando nos minuciosos movimentos com o cinza urbano do asfalto e suas linhas amarelas. O reluzente amarelo, mesmo das luzes de natal envoltas nas árvores. O mesmo gato preto, eterno gato preto a azucrinar. Sua presença torna tudo fúnebre, me dá calafrios. Não sei como ele pode gostar de tal gato. Ele se sente bem, acaricia-o. Deve ter um instinto materno, por isso toda essa perseguição. É, ele só me lembra de minhas impossibilidades. Essa capacidade fatídica do não-amar. Mas foda-se.
O gato preto. Por mais clichê que isso possa soar, ele só aparece na noite. Igual às prostitutas, igual ao meu instinto devasso, igual ao álcool. Não, o álcool está em todo lugar. Mas o prazeroso prazer do cigarro, do cheiro esfumaçado, da lisergia.. ah, esses sim só aparecem à noite. Sem o sol tudo brilha mais, é o próprio, o eu sem intervenção. O sol só ofusca, atrapalha, cega. E o gato disso tudo deve saber. Fica por aí, a espreitar nossos movimentos bruscos, nosso sexo explícito, nossa bebedeira na fossa, nossa solidão. A solidão solitária, a solidão na multidão, a solidão com o cigarro. E ele lá, só a observar. Nada mais tem a fazer na vida, assim como nós. Mas forjamos o labor; ele não, ele admite sua condição e vive, como observador passivo. Sim, às vezes nem tão passivo, como quando faz questão de vir se esfregar, se roçar em mim. Será que ele crê que vai achar algo como, amor? É, o gato seria tão ingênuo e inócuo quanto ele. Ah, ele. Não sei como senti prazer com a perda.
Cansei dessa coisa axiomática. Aaah, quero amar, quero sofrer, quero que doa. Não quero ser alheia a tudo. Não quero ser esse gato preto, observador invisível do universo. Ou do meu micro-universo. Ou é tudo pretensão minha, e ele ta realmente se fudendo pra isso tudo. Quer apenas caçar seus ratos, e andar sem rumo. Sem paradeiro. Como eu.
Ou não.

vendredi 12 décembre 2008

remoto.

estou refém da tecnologia que dilacera pensamentos. na âncora da ociosidade, tentador fruto rubro, vermelho sangue, da produção nula. a conexão wireless de todas as mentes pós-modernas, que vivem, respiram e transpiram midiaticamente. controle invisível, de tanta onipresença. não há bucolismo, não há natureza, não há escape ao alcance dos satélites, direcionados a sua dominação.
lobotomia vinda da infância, torna-se cego à todas outras alternativas. cultura, laboriosamente lapidada durante os séculos, só pode ser vislumbrada quando distantemente lembrada num programa de tv durante a madrugada.
ninguém foge do controle... do controle.

(ah, se eu conseguisse desligar)

jeudi 11 décembre 2008

duplo infinito

solitude
amplidão interior
do sofrimento bebemos no açude
na fonte, bebemos da dor

momento vazio.
frio, ao vento aberto
o corpo lânguido, esguio
deixa o oco descoberto

que nada faça sentido
que a vida, passe em vão
a rotina, história já lida
cotidiano sem inovação

lundi 17 novembre 2008

condição de embriaguez

tudo fosco, tortuoso. os conceitos não mais se aplicam. filosofia distorcida, descamba em literatura de bueiro. pensamentos-dejeto, deturpando a consciência coesa. tudo balança. angústia da obrigação, consequentemente da inatividade. ah, solidão cercada. necessito o mal, o mau, o cheio-vazio mais todas as antíteses prazerosas ao ver das letras.
virtualidade dos contatos sociais. talvez, não generalizada, partindo do princípio de que meu ponto de vista idiossincrático é demasiadamente subjetivo, referindo-se propriamente a mim. talvez seja apenas comigo, e com a minha representação de mundo. com o meu alcoolismo individual, com a minha não-linearidade, com a minha dependência da alteridade, que, na realidade, nada acrescenta. continuo sempre na insatisfação.

amarelo

tenho o papel, a caneta, as pessoas... e a solidão. o nada a dizer, o vazio filosófico, o movimento constante, o devir. a cerveja, levedo malte, o cigarro, nicotina alcatrão. o cansaço da frustração.
rodeado do cheiro do nada, inebriação pelo vazio. conexões inconstantes, que ---- tem a dizer.
o vácuo é tão cansativo, minha condição de espectador já saturou. por mais que procure urgentemente agir, é como se moldasse vento. minha interação é facilmente dispensada. a problemática dos sentimentos então, tinta invisível. singularidade tão singular e individual, que pode ser reduzida ao absurdo do nada.
tanta prepotência por ----.

vendredi 31 octobre 2008

público

o suicídio sim seria a única questão valiosa de ser problematizada. não enxergo fraqueza a desistência na realização de tal ato. a consumação do suicídio denota extrema força de vontade e clareza. teleologicamente, aceitando-se o suicídio, sua vida tem a finalidade do fim, acrescento, o fim quando você decidí-lo como tal. a decisão pelo suicídio demonstra tal domínio de si e liberdade, quando as consequências de tal ação sobre os outros e sobre a realidade não mais importam, não impedem de fazê-lo. nem digo cometê-lo, pois tal palavra impele a uma concepção errônea de culpa, de crime, de errado e mau. nada há de mal no pleno controle sobre a própria vida, extremizado ao ponto de se ter o poder de mantê-la ou não como vida. suicídio é o ápice de consciência do ser e da liberdade de opção de ser, ou apenas não.

jeudi 30 octobre 2008

tuberculose da maldição

a auto-antropofagia em que você se consome, se deteriora, se esgota. gasta todos os seus recursos em prol da sua própria decomposição, escolhe se martirizar, neurotizar. vira escravo da paranóia, operário da psicose. sua força de trabalho cria apenas sua própria destruição. o amor-próprio já foi carburado, e te faz caminhar em direção às brasas flamejantes da loucura.

mercredi 22 octobre 2008

flutuante

mergulhei na languidez nicotinesca. cada passo novo, único, excêntrico. esse cheiro nublado, esse vento polar, acrobata das cigarras.
o chão domado do roxo pisado, olhos vibrantes, extenuantes. pulam as letras de acordo com o movimento pendular das pernas.
é, tudo isso é meio sem sentido. o sol já saiu mesmo.

vendredi 26 septembre 2008

paródia

É impossível delimitar o que é ser humano na sociedade pós-moderna. Diversas concepções ontológicas já surgiram com o passar dos séculos, mas nenhuma captou a verdadeira essência do humano, se é que o humano possui uma. Ou a essência do humano é demasiadamente mutável, ou ele carece de uma.
O homem da antiguidade, o homem do ilimitado (ápeiron), o homem do mesmo princípio de todas as coisas, o homem em conjugação com o mundo, com a physis, morreu. A concepção naturalista na qual se viam imersos os homens da Grécia Antiga não mais identifica o homem atual. O uno, o fluxo, e a unidade do movimento nada mais explicam.
A cidade também não mais confere identidade ao homem A pólis, agora metrópoles, não fagocita (no bom sentido) o homem, a cidade não possui mais tanto poder de transformação sobre o homem, ele não é nem se sente na cidade. O trabalho, que já foi razão e sentido da vida, fator determinante desde o nascimento, agora não passa de meio de sobrevivência.
Com toda a revolução biotecnológica, o homem não sabe ser por si mesmo. O homem depende totalmente dos aparatos técnicos para afirmar-se como homem, nada sabe fazer sem o auxílio da tecnologia. O homem, de certa forma, troca seus instintos por inteligências artificiais. As telecomunicações substituíram estradas de terra, as videoconferências poupam horas de viagens, a energia elétrica substituiu a fogueira e deu a luz a milhões de aparelhos, os quais os homens atuais não conseguem desvencilhar-se, imaginando a vida impossível sem eles.
Espera-se até superar o cárcere físico, o limite corporal determinado por sangue, ossos e gorduras. Pretende-se transmitir nossos impulsos cerebrais à hardwares, atingir a máquina humana, computadorizar o pensamento. Ultrapassar a imortalidade.
Porém, ultrapassando a imortalidade, ainda seríamos humanos? Não seria a finitude intrínseca à concepção humana? E, ao transcendermos o corporal, a ligação eterna às máquinas seria humana? A meta, a perfeição, seria a inteligência artificial? O homem se vê no não-humano, lá procura completar-se. A nossa condição humana caminha cada vez mais ao não-humano.

dimanche 24 août 2008

entre 5 e 6, não há diferença

Esqueci. Estou confusa, e não sei por quê. Agor vejo, a grama seca, devastada pelo clima. As árvores ironicamente altas. O céu intensamente azul, nenhuma nuvem. Tudo isento de umidade.
Não sei o que faço aqui. Vejo uma bolsa, um livro ao meu lado. Estou no meio de tudo. Acendo um cigarro, esfumaçar as idéias. Estaria eu fugindo?
De quê? Para onde?

Os clichês me resumem. Minha profundidade é superficial. O oco do cerne.
Refaço o caminho das pedras, volto para casa. A janela entreaberta, a cortina semi-transparente. Tudo contribui ao clima introspectivo e mal-iluminado. Cheiro de tabaco, cigarro apagado. Sinto a nicotina em mim. Deito. Penso.
Em quê?

Nada. Supervalorizo o vazio do meu pensamento, creio especial o nada além de ordinário. Dói. Dói doer o que não devia doer, importar. Paredes cheias.
Pensamentos palavras paredes pinturas. Abstratos. Forjo uma significação para o nada. Preguiça, ócio criativo? Deveria admitir a falta de funcionalidade da minha existência.

Preciso. Preciso de outro vácuo para me completar, preciso de um maior vazio para me afirmar. "bom". Efêmero. Sofá, textura amarela, veias de madeira. Janela entreaberta, céu limpo. Horas a observar o que carece de observação.

Quisera parar o tempo. Melhor ainda, voltar o tempo. Evitar tais desastres fatídicos. Quisera eu que a rotina não houvesse me consumido. Quisera eu não ter fumado aqueles cigarros. Quisera eu não ter flertado com o céu. Quisera eu que a janela não fosse tão sedutora. Que a queda não fosse tão. Degradante.



nada mais dói.

mercredi 30 juillet 2008

ai5

a cidade sopra tristeza. nem o reluzente verde-folha ou o imaginário azul-celeste ofuscam tal cinza-metropolitano doentio. quando tudo vai passar? essa rotin fatídica dói, suga, corrói. absorve todas as mínimas fagulhas de vida, já emigrando de mim. nem o vermelho, sangue de sol, me salva. pois é proibido. tudo proibido. viver é proibido. é proibido proibir.

lundi 14 juillet 2008

ao ponto de partida (axiomas)

encruzilhada de caminhos idênticos, que não levam a lugar nenhum. tal oxigênio, indispensável ao complexo e vital metabolismo celular, são as decepções, as indecisões e as infinitas viagens mentais.
é a vontade que dói. a vontade extrema de não querer, essa "querência" eterna, ganância inata não-material que causa falência múltipla de órgãos e sentidos.
querer o não-querer é desejar a morte enquanto se foge dela. o meu eterno retorno.

lundi 7 juillet 2008

fool's paradise

estou exausta. sou regida pela primeira lei de newton. essa vida social não é para mim. fonte primária de angústia.
o aneurisma deveria fuzilar-me de uma vez. não aguento mais a lobotomia. as vontades. as decepções.
diário de uma vida malograda.