vendredi 31 décembre 2010

full moon

todos são criminosos à luz do luar.

mercredi 22 décembre 2010

a luz ilumina ou só esconde verdade?

lundi 20 décembre 2010

lamentos do poeta pequeno-burguês

enclausurada nesse quarto sem muros esqueci que o mundo não para de girar.

enquanto desnorteada, quedei-me cega e mediante tantas escolhas caminhos amores me deixei olvidar no álcool e seus desdobramentos e deslumbramentos.
esse ébrio ralo magnético no quadrilátero da decadência só instaura dor disfarçada de euforia e histeria forjada paixão.
mas quando desce a consciência, de que adianta? fazer qualquer coisa além é como aderir à teleologia teológica que molda o absurdo com forma metafísica e esperar transformar argila dura em valor.
qual a porra da diferença ontológica entre definhar no álcool e viver pelo que já nasceu morto?

lundi 6 décembre 2010

quase um gibraltar

margarida me fez acordar. estava no cartório, sentindo o cheiro do carimbo naquele recinto vazio, plena madrugada cumprindo hora extra. comecei uma livre associação com minhas leituras de faculdade, com paulinho da viola e romances lidos durante toda vida.
vejo agora onde estou. sentado nessa cadeira de couro bege, com o estofado desgastado se entrelaçando ao tecido da minha calça. essas certidões de nascimento, matrimônio, óbito. sou em quem decide a existência das pessoas. eu digo quem está vivo e quem está morto. esse poder do registro acabou por sugar tudo o que eu tinha em mim.
lembro-me da época em que passava as noites em claro lendo romances, tocando o despertar da montanha no meu bandolim. bebia, ria, respirava fumaça que não vinha do trânsito. discutia assuntos espirais com meus amigos, tudo regado à cerveja gelada. ficava à espreita das saias das moças, flutuando com o vento gelado do bar.
gostava de sentir os corpos roçando ao meu no caminho da fila do banheiro. gostava do barulho da tampa sendo violentamente arrancada da garrafa. aquele murmúrio ininterrupto de existências desnorteadas, que conseguiam tirar um prazer monumental daquele estado de transição em que seus corpos etílicos se encontravam.
hoje sou um abscesso. sou um carimbo gigante, que decalca a impropriedade sobre as existências em fluxo. nada no mundo me escapa mais, sou como algoz que serve às letras estáticas e eternas.
margarida fez-me ver a vertigem proveniente dum barco nas ondas. fez-me ver que a vida escapa a essa paralisia do registro, do estado, das leis. ainda há espaço de transição. suspensão espaço-temporal.
ah, o mar... tudo flutua. sem limites nem bordas de folha de papel. lá, as palavras escapam para onde a vida se exalta. de embarcação em embarcação corpos se esbarrando, convivendo e desaparecendo para depois de anos voltarem a se encontrar.
a cada atracação no porto, a terra é diferente. tudo cheira diferente. as cores mudam de espectro. bodies taste different. tudo é vida ao cheiro de maresia.