lundi 23 novembre 2009

relato de morte

música alta, acordes estridentes. risadas e dentes, cabelos esvoaçados, chão grudento de suor cerveja e sangue. corpos escorados na mureta, outros descansados no sofá. corredores tumultuados, tropeço em corpos fundidos num beijo e outros arrendondados entre cinco e seis.
nessa calmaria do caos o som ressoa. as músicas vagueam pelas épocas enquanto os corpos repousam em seu movimento imagetizado espacial.
e é assim que lentamente um corpo cai. na fluidez contínua e social do álcool, um simples desatino toma proporções catastróficas. primeiro, o desastre deixa catatônico. depois, se metamorfoseia em pânico.
o movimento toma proporções maiores e se transforma em correria. uma matilha de corpos corre e escorre escada abaixo. o som continua, talking heads psycho killer. o refrão francês não causa mais o mesmo prazer ébrio em mim. agora ele é revestido pelas figuras pasmas, que paralizam e correm.
o corpo fatídico não pulsa mais. o sangue que vaza é escuro e denso. é o penar que não escorre mais dos olhos. não foi apenas uma, mas todas as vivacidades que sublimaram do chão. o sublime se deformou com a supressão súbita da vida. o grotesco das expressões, os rostos pontiagudos com nojo asco e surpresa foram contagiosos.
todos morreram no mesmo dia.