mardi 17 août 2010

canetas 4.90

é granulada a cafeína sobre o líquido. mas é amargo, de um gelo sem gosto, um leite sem cor, bebida sem identidade. um murmúrio inigualável de vozes desejantes, insatisfeitas, histéricas (porque esse sim, desejo do capitalismo, é pela falta). o antro das compras desenfreadas, da gana de necessidades inventadas.
uma voracidade pláscida invade o rosto dos transeuntes, que desfilam calmamente pelas vitrines dispostas dentro do branco quadrilátero, de chão e teto reluzentes.
as sacolas são as responsáveis pelo desagradável delito auditivo. crianças esperneantes ferem nossos olhos e nossa potência de procriação. a castração compulsória às vezes me parece tentadora.
às vezes a calmaria resolve trepar com a ansiedade, a homoafetividade. um mero sentar, pensar, ler se transforma em espera irrefreada. qualquer olhar torto se vê desfeita, a modulação vocálica instrumento de análise semiótica. cortam-se os fluxos. a paranóia fascistóide cria uma superpopulação de representações.
não existe tal correspondência fantasmagórica (de fato). melhor sentar no café deserto e esperar a mulher suntuosa, de luto, ter seu negro vestido pelo vento balançado. sentir o odor verde noite nas calçadas, refratado pelo amarelo tímido penetrado por sombras... ver a fumaça escapar da boca na pré-história do cigarro aceso... semear fósforos riscados nos jardins...
o câncer sempre floresce epiderme abaixo.