dimanche 23 janvier 2011

bêbada de água suja

tenho medo de encostar nas coisas e sentir de novo a tatilidade do real. tenho medo de tomar banho e descorar como guache sobre tela. tenho medo de abrir minha bolsa e ler recibos que me registraram lá. tenho medo de olhar pela janela e não ver o mar. tenho medo da brahma voltar a ser ruim. tenho medo de enfrentar a arquitetura fascistóide do olhar incisivo. tenho medo da ducha quente e da noite fria.

arpoaDOR

desfazer as malas, abrir zíperes, não quero tirar a areia do corpo.
quero viver entre os montes me dissolvendo na água e sal. quero me embriagar do suor pelando quarenta graus. prefiro afundar no empuxo do mar do que me asfixiar nessa geométrica secura.
não quero abrir as malas, quero continuar surda com grãos de areia no ouvido, quero continuar com cheiro de filtro solar e com seu gosto dentro de mim.
quero sentir pedra calor enjoo. quero passar mal fumando cigarro, quero acordar no seu cubículo de um ventilador roto. quero me sentir derreter contigo no suicídio caloroso de um abraço.
só continuo aqui escrevendo porque não vale a pena pular da ponte jk tanto quanto da barca rio-niterói, onde nem os peixes te deixam sem ar.
o céu, o sol e o mar ao som de o céu, o sol e o mar. quero respirar aquela marola de amor e calor por todas as estações.
ainda caem grãos salinos de meus olhos.