mardi 30 mars 2010

a comicidade do medo da solidão é aterrorizante. o medo de se achar sozinho e o temor de mesmo em conjunto encarar o vácuo é irrisório.
qual o vírus que infecta o eu a ponto de não suportar a si próprio? que impele tudo, até a aversão, a se misturar no espinhoso tecido supostamente homogêneo da coletividade, sendo que esta mesma gera tanto pavor que força um esforço para adequação?
a solidão que mais dói é a não-espacial. é a que persegue desde os sonhos até a agorafobia. é a incapacidade de comunicação expressão e compreensão, é a afasia completa ante a alteridade.
a respiração que se rarefaz frente à multiplicidade de corpos e suga palavras gestos e vontades.
é o frio repentino que congela simultanemante laringe mãos coração. que hiberna vontades e congela desejos. nos paraliza catatônicos no mesmo lugar. no mesmo estado sólido com vontade de sublimar.
o mesmo medo de todos e de ninguém, sem importar o lugar.
essa indecisão, que se forja fruto da esperança despedaçada, é lugar da ausência onde habita o não-ser. é onde toda falta de vontade floresce e se queda exausta de não-querer.
onde cada gole, cada trago, se torna o último.

samedi 13 mars 2010

uma solidão e vários copos

enquanto os pingos descansam sobre os corrimões, os ladrilhos se tornam cada vez mais marrons, o aglomeramento cada vez mais unitário; a ambivalência das palavras eclode.
a esperança que suga o lado não-negro do maniqueísmo mesclada com a vontade e que no bem esgarça todos os órgãos e ações suscetíveis, e que asfixia pouco a pouco enquanto os órgãos se contraem como massa de modelar, renasce em meio ao manancial luminoso pleno de vida desgastada.
corta com os dois gumes, espelhando no aço inox sua verdadeira face destrutiva. a esperança nunca foi o sentimento bom, o último dos moicanos.
é ela que devora, que engole todas as derradeiras vontades com aquilo que não pode cumprir.
é ela que promete o inalcançável, que faz os olhos brilharem de desejo com o que se encontra atrás das grades com a chave já fundida.
é ela que glorifica as mentiras, as omissões e as falsidades, com o ardil do prazer que descansa na potência mais adormecida.
é ela que não concede a vigília, e nos encarcera no onírico falacioso, onde toda dor e sofrimento se forjam como devir aprazível, o que nunca mas se acredita acontecer.