samedi 6 novembre 2010

amor d'infância

lembro-me de quando você caiu aos prantos no chão. seu corpo todo tremia, seus músculos todos contraídos, seu rosto de pavor. vertia suor frio, e eu queria carregar-te como a um filho.
foi nesse dia que descobri que você era de verdade.
tudo era escuro, a grama era alta e a rua vazia. conversávamos, e repentinamente você teve um surto de existência. sua paralisia exalava mais vida do que toda a inércia cotidiana dos seus beijos de bom dia.
você permaneceu lá, horas a fio, com choro misto de lágrimas. eu me enfureci de inveja. logo eu, que me achava tão autêntica, tão viva, nunca havia rompido com minha cotidianidade de forjar-se louca mas presa na linguagem.
no seu lugar-comum você conseguiu ser homem do subsolo, você conseguiu ser mais literatura que o papel tipografado. essa tua hora de existência valeu mais que minha vida inteira.