mardi 15 février 2011

pont-neuf

é bom saber que você sente falta do meu cheiro de mim mesma do mesmo modo que sinto falta da sua pele áspera e do seu cheiro de você mesmo. mas eu lembro do seu corpo, e da sua saliva de você mesmo que vira eu mesma num certo ponto e começo a desesperar. que nem quando escuto nina simone e só me vem seu corpo me enlaçando dentro de minha cabeça. passei meses sentindo seu cheiro em todo lugar e usando suas roupas pra voltar a ser você mesmo sendo nós dois ao mesmo tempo, e em todas as palavras só conseguia enxergar tua poesia. o você eu mesma foi se dissolvendo mais a cada dia, você esvaia de mim e se infiltrava nos bueiros nessa vida de rato sujo e mutilado. a gente sabe que nos mataríamos eventualmente. eu a você e você a mim, como se fossemos um só cadáver ao mesmo tempo. eu queria ser suficientemente você pra poder tirar a sua vida, e com ela pra mim você tirar a minha, e a gente ficaria nesse ciclo suicida eternamente, cada um com sua alma que é do outro mas minha sua do mesmo tempo. moraríamos na pont-neuf, bebendo vinho barato e nos mutilando juntos, brincando de atirar pelos ares e brincar de bola de gude com globos oculares.
você vive com tanta urgência que acaba por nos matar.